Yorùbá – voltamos a insistir nesse assunto de real
interesse para aqueles que desejam conhecer a
Cultura Religiosa Yorùbá. São os passos da caminhada
ao sacerdócio na vida de um Babaláwo.
Ele começa, aos seis anos de idade como
Omo-awo / o filho do segredo ou Kékeré-awo /
pequeno no segredo. Com a opção pela vida sacerdotal
feita, os Pais da criança vão consultar Ifá para
que seja indicado o melhor Mestre para ela.
Identificado o Mestre os Pais levam a criança
até ele. Entregam-lhe quatro obí para que
seja feita a nova consulta a Ifá. Sendo aceito o
Babaláwo dirá: "Láti àsìkò yí lo ìwo (......)
omo (.....) àti (.......) dúró ní iwájú mi láti kó Ifá
dídá. Èmi nfé, gégébi Olùkó re, kí ìwo gba ìmò àti,
wipé léhìn èkó re, ki ìwo lè lo ìmò isé yìí bi ó ti
tó àti bí ó tiye."
A partir desse momento (nome) filho de (nome do Pai)
e (nome da Mãe) está diante de mim para aprender
o Jogo de Ifá. Desejo, como seu Mestre, que ele
absorva os conhecimentos e, ao terminar seus
estudos, possa fazer bom proveito do aprendizado."
A partir daí serão providenciados os ritos de
iniciação. O Omo-awo não poderá ser ensinado,
ou aprender e participar de outros ritos sem que
tenha sido devidamente iniciado, tenha recebido
seu Ìgbá Odú e seu Òpèlè Kàrágbá que
"não tem valor litúrgico", este último servindo
somente para o estudo e aprendizado.
Na maioria dos casos o Omo-awo passa
a residir em uma Ègbé-Babaláwo /
Sociedade dos Babaláwo. Cada cidade
Yorùbá tem uma dessas sociedades comandada
por um Sacerdote do maior nível hierárquico
que é o Olúwo-Ifá, líder pleno, Senhor de Todos
os Segredos. Imediatamente inferior a ele está o
Sacerdote Balógun, homem poderoso no àse da
palavra, deve ser saudável, ter boas condições
econômicas, nesse caso sempre mantém várias
esposas. Subordinados aos Balógun estão os
Àsíwájú-Babaláwo que representam a
Sociedade perante a Comunidade. Encontramos
também os Àsipa-Babaláwo, os relações
públicas; os Akápò-Babaláwo, secretários e
tesoureiros; abaixo destes os outros cargos são
ocupados pelos Omo-awo. Às sucessões
hierárquicas são feitas pela consulta ao oráculo
e posterior prova de capacidade dentre os escolhidos.
Periodicamente são realizadas reuniões presididas
pelo Olúwo e Balógun recebendo o
comparecimento de outros Sacerdotes Lideres
Comunitários de cidades vizinhas. Inicialmente
são realizadas oferendas para Ifá e distribuída
farta alimentação aos presentes. São discutidos
os problemas e todos sugerem soluções.
Construções de Templos e Santuários; soluções
para problemas de ordem sociais; destino do
dinheiro recebido em doações; realização de
Jogos de Òpèlè Ifá ou Jogo de Ikin. São realizados
a pedido dos Qba em busca de orientação; troca
de informações sobre os sistemas de Ifá; Odun Awo
o festival anual em homenagem a Ifá; Òsè Ifá a
semana devotada a Ifá são alguns dos motivos
das àjo / assembléias.
Ao longo de dezesseis anos de aprendizado o
Omo-awo poderá vir a ser um Babaláwo
se houver adquirido o conhecimento da
natureza humana. Nesse período o Omo-awo
vai aprender a obedecer a uma hierarquia
rígida submetida a seu Mestre.
O Omo-awo deverá ser Humilde, devoto, paciente,
perseverante, incansável, solidário, cooperativo,
ético, seguindo a conduta dos mais velhos, aprendendo
a ser responsável e desenvolvendo a capacidade
comunicativa. É impedido à ele a mentira, o roubo,
a ganância, o adultério e o convívio com as esposas
do Mestre, sendo vetado que o Aprendiz sente-se onde
a esposa acabou de levantar, deve sempre trata-la
pelo Título de Ìyàwó / Esposa ou Ìvá / Mãe.
Uma das coisas que pode acarretar a "expulsão"
do convívio com o Mestre será o envolvimento,
assédio ou o fato do Aprendiz manter relações
sexuais com a pessoa que venham buscar
orientação ou o conselho do Babaláwo.
É no contato diário com seu Mestre que ele
aprende a trocar informações, a recitar Ìtòn / /lendas,
Oríkì / evocações, Ofò / encantamentos, Àdúrà,
Gbàdúra / suplicas , Ìjalá, Orin / cantigas, Ìyerè /
cantigas de dor e júbilo para Ifá, a conhecer
os segredos das ewé e fazer os rituais todos.
Sujeita-se a inúmeros ritos iniciáticos periódicos,
inclusive o rito do lde-Odù, indispensável para
que possa iniciar outras pessoas e que o faz
adquirir os conhecimentos de tratar e cuidar
ritualisticamente do Ìgbá Odù. Aperfeiçoa o dom
da palavra, o domínio da oralidade, força
fundamental para ativar o poder dos Elementos
da Natureza.
O Omo-awo deve ser "solteiro" até ser ordenado
Sacerdote, para que não venha a ser atrapalhado
no seu aprendizado pelos afazeres do casamento.
Isso não implica em abstinência sexual ou mesmo
que ele não venha a namorar, mas o casamento
só poderá ser celebrado após sua consagração.
Durante o período de dois anos o Omo-awo
vai aprender a usar o Òpèlè Kàrágbá, só depois
disso podendo estudar os Ikin. Nesse período
ele vai aprender os dezesseis Odù Principais e,
dependendo de sua capacidade de memorização
irá aprender de dois a dezesseis Èsé / contos
sobre cada um deles. (continua)
Tendo memorizado os Odù Principais e seus
Èsé ele deverá iniciar os estudos e memorização
dos Ilé Odù, os menores, na seguinte seqüência:
De Ogbè-Òyèkú a Ogbè-Òfún
De Òyèkú-Ogbè a Òyèkú-Òfún
De Ìwòrì-Ogbè a Ìwòrì-Òfún
De Òdí-Ogbè a Òdí-Òfún
De Ìròsùn-Ogbè a Ìròsùn-Òfún
De Òwòrín-Ogbè a Òwòrín-Òfún
De Òbàrà-Ogbè a Òbàrà-Òfún
De Òkònròn-Ogbè a Òkònròn-Òfún
De Ògúndá-Ogbè a Ògúndá-Òfún
De Òsá-Ogbè a Òsá-Òfún
De Ìká-Ogbè a Ìká-Òfún
De Òtúrúpòn-Ogbè a Òtúrúpòn-Òfún
De Òtura-Ogbè a Òtura-Òfún
De Ìrètè-Ogbè a Ìrètè-Òfún
De Òsé-Ogbè a Òsé-Òfún
De Òfún-Ogbè a Òfún-Òsé
Devendo memorizar no mínimo dois Èsé
de cada um destes acima citados formando
um total mínimo de 512 Èsé, além de seus sinais
gráficos, os conselhos e Etùtù relativo a cada um
dos versos. Para tão grande memorização o
Aprendiz passará pelo ritual do Ìsòyè a fim
de ter aumentado sua capacidade de memória.
Em posse dos conhecimentos sinteticamente
relatados acima será possível proceder ao ritual
Ìkó-Àte, demonstração pública de domínio dos
Odù, consentida pelo Mestre que da independência
ao Babaláwo recém-formado, tornando-o Sacerdote.
Desejamos que o estudante CECY se intere
muito bem quanto aos Rituais de Iniciação nos
Cultos de Òrúnmìlà. Para isso mostraremos uma
das rezas principais do Ritual de Iniciação:
1-) A té o náá.
2-) Hee, a té o náá.
3-) Kí o tún ara e té o.
4-) Awo kì nlé ikún.
5-) Awo kì nlé ejò o.
6-) A té o náá kí o tún ara e té.
7-) Awo kì nsúré gun igi òkókó o
8-) A té o náá kí o tún ara e té.
9-) Kí o má fi ìbá nté ode won ìdì wò.
10-) A té o náá kí o tún ara e té.
11-) Bi odò ba kún kí o má mà wó wò o.
12-) A té o náá kí o tún ara e té.
13-) Bí igbá ba já kí o má mà wó wò o.
14-) A té o náá kí o tún ara e té.
1-) Nós te iniciamos.
2-) Nós te iniciamos.
3-) Que vc faça sua própria iniciação.
(tenha consciência de seus próprios limites)
4-) Um iniciado não se atreve a caçar ikún
sem armas.
5-) Um iniciado não se atreve a caçar cobra
sem armas.
6-) Nós te iniciamos para que vc tenha
consciência de seus limites.
7-) Um iniciado não se atreve a subir correndo
em uma árvore de Òkókó.
8-) Nós te iniciamos para que vc tenha consciência
de seus limites.
9-) Um iniciado não se atreve a caçar sem ser
um bom caçador.
10-) Nós te iniciamos para que vc tenha consciência
de seus limites.
11-) Quando o rio estiver muito cheio não se
atreva a mergulhar sem saber nadar.
12-) Nós te iniciamos para que vc tenha consciência
de seus limites.
13-) Se a corda estiver rompida não suba na árvore.
14-) Nós te iniciamos para que vc tenha consciência
de seus limites.
Amèyìn Gbómo Ekùn
Modùpe o! Bàbá Amèyìn Gbómo Ekùn
Kekere awo Ifàgbòàlà Èsú
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