sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Orí no conceito Yorùba


Orí no conceito Yorùba

Por Bàbá Sehinde A. Ademuleya doutor em Antropologia da Universidade Obafemi Awolowo, Nigéria – Ìbàdàn

Em todas as sociedades, as crenças de um povo e sua filosofia, constituem em um sistema de pensamentos que sempre serviram como base para suas atitudes em relação à vida.
Este sistema de crença lida com praticamente tudo o que de percebe entre desejos e pessoas, tudo que se  possa imaginar, essas atitudes, são muitas vezes transmitidas através da comunicação, seja ela oral ou escrita.
Para obter um bom entendimento cultural de um povo, se faz necessário entender e compreender, as crenças e os conceitos filosóficos de tais culturas, temos o conhecimento que nenhum assunto religioso e cultural pode ser abordado sem base no conhecimento de sua historia.

A representação das imagens humanas esculpidas em madeira por artistas Yorubá, sofreram e ainda sofrem a distorção no conceito Cristão de artes; em especial o umbigo, a mama, o órgão genital masculino ou feminino, gera conflito e esconde seu verdadeiro significado.
Seus significados só poderiam ser compreendido e melhor apreciado quando se entende todo o complexo que produziu o conjunto espetacular para qual foi feita.
Voltamos para nosso propósito que é o conceito do Orí.
O homem tem sido frequentemente descrito em uma visão religiosa de “Corpo e Alma”.
Na visão Yorubá Eniyan (ser humano) constitui, o copo (ara), cabeça (orí), pescoço ( orun), tronco (iyoku ara) e extremidades (apa e ese)
O exterior do corpo assim como péle (awo), e os seus componentes, cabelo (irun), unhas (eekanna).

Essas partes do corpo unidas constituem no conceito Yorubá um aspecto do entre o físico e o espírito, que é perceptível aos nossos sentidos e descritos analiticamente em termos anatômicos.
A ideia Yorubá de alma foi concebido e descrito em diferentes maneiras.
Em algumas sociedades Africanas a alma esta associada a mais de dois aspectos espirituais no homem; enquanto para alguns é “ego” que constituído com alma forma o duplo homem.
Para nossa compreensão desta transcendental autonomeado “alma” no Yorubá, é necessário explicar algumas palavras neste idioma, que tem sido erroneamente traduzido como “alma”, que são:

Emi e Okan
Emi = invisível e intangível, é seguramente relacionado com a respiração, o que pode ser pensado em residir na boca e no nariz.

Mas a respiração não é a Emi, que em Yorubá é EEMI. Emi é o que o homem respira, e pode ser melhor descrito através de duas funções como casuais que dá vida ao corpo, portanto, quando deixa sua função, o homem deixa de existir, pois o corpo se torna sem vida,  o Yorubá  diria emi re ti bo ( sua emi acabou) que significa estar morto.

Por outro lado, Okan significa literalmente coração.
Em um sentido físico, o coração está intimamente ligado com o sangue, mas, para o Yorubá, o coração é mais do que uma máquina de bombear sangue; é a sede das emoções e da energia psíquica.
Assim, um bravo homem é dito possuir um coração forte ou “ o lokan”, se um homem é conhecido por ser fraco em seus pensamentos e ações, ou seja, tímido, o Yorubá diria (ko ni okan) “ele não tem coração”.

Basta observar, no entanto, que nenhum dos dois conceitos descritos acima constitui a alma para o Yorubá.
A alma é o homem interior, a verdadeira essência do ser, a personalidade; este  a chamam de Orí.

A palavra Orí, em contraste com seu significado “cabeça física”, ou sua descrição biológica como a sede dos principais órgãos sensoriais, o Yorubá conota a natureza total de seu portador.

Um grande e específico estudo desta crença Yorubá nos revela o significado e valor do objeto identificado como “Orí”, isto é, cabeça, que carrega consigo a natureza essencial do individuo, que é o homem.
Para os Yorubá o físico “Orí” é apenas uma simbologia da cabeça interior “Orí-inu
A Orí ocupa o centro do sagrado, e como ela é concebida, está embutida no mito Yorubá sobre a criação do homem e o papel desempenhado por seu criador, Eledaa (ele que criou)
A palavra Yorubá para o  homem é Eniyan, que é derivado da frase Eni ayan ( o escolhido). O divino oráculo de Ifá, nos revela que:

A wa gegebi eniyan                           Nós, como seres humanos
A wa ni Olodunmare Yan                  Somos os escolhidos de Deus
Lati ló tun ilê aye se                           Designado para renovar o mundo
Eni a yan ni wa                                  Nós somos os escolhidos

É indiscutivelmente reconhecido que eniyan é uma espécie ou criatura (Eda) de Deus ou (Eleda) o criador, enquanto eniyan ou eni (pessoa) como substantivo comum para os seres humanos, que, diferente de outras criaturas, a Orí serve como ligação, o mesmo que “cordão umbilical”, com Deus.

Na visão Yorubá, é Deus que cria e regula o Universo, embora a responsabilidade de gerir e controlar o individual do homem durante e depois de sua existência, é sua Orí , acredita-se ter sido abandonada por seu Eledá.
O òrìsà chamada Orí é igualmente um ser criado por Deus. Isso explica porque o Eledá é também conhecido como òrìsè.
Orí ou òrìsè significa a essência do ser, ou seja, “gerar de” ou emergir, òrìsè. É a fonte da qual o ser origina.
Enquanto òrìsè refere-se à divindade (Deus), o criador do homem,a Orí refere-se a própria essência do ser, a personalidade ou a alma.
No entanto, deve-se ter em mente que esses termos ou palavras são frequentemente utilizados indiferentemente, enquanto Eleda é utilizado como o “invisível” (orí inu).
Esse gbadura Yoruba nos diz:

Orí ló da mi                            A divindade é meu criador
Eniyan ko o                            Não é o homem
Olorun ni                                É Deus
Orí ló da mi                            A divindade é meu criador

A Orí neste gbadura se refere à Divindade, enquanto que em outra frase Yorubá diz:

Bi aji ni kutukutu ka di Eleda 

Quando se acorda cedo, a pessoa deve louvar seu Orí (deve-se cultuar a orí)

O Eleda aqui assume a posição da ori inu, a essência do ser.
No entanto, afirmou-se que na preexistência da pessoa humana, antes mesmo que ele vem ao mundo, a sua predestinação.

Vários Itan (historias) Yorubá sobre a criação humana confirmam este fato.

Em um Itan narrado por Baba Wande Abimbola, conta que Obatala que é o mesmo que òrìsà-nla (grande òrìsà), a divindade arco, que se diz ter a responsabilidade de esculpir o eniyan (ser humano) e projetar apenas as características físicas, por isso a sua denominação:

A da ni bo ri ti                                     Ele que cria como ele escolhe

Tornando o ser bom formado ou deformado em suas características.
Olodunmare (Deus) daria ao corpo a emi (vida), o eniyan é entregue à Ajala, o Irunmole n mo ipin ( a divindade que molda ori-inu) cabeça interior,que é tão desejado por todos ao chegar ao mundo.

Este itan coloca a Orí como destino e o significado de inu ou ipin se da à (parte), ou seja torna-se parte (de), também nos explica a famosa figura de uma pessoa ajoelhada diante de Olondumare para receber seu destino.

Neste caso sua ipin tem o significado de destino.
Ajoelhando-se para escolher o seu destino como se explica a frase Yorubá , a kun Le Yan ( que se ajoelha para escolher) ou ainda a kun Le gba (ajoelha-se para receber), ou por ter seu destino a ele imputado a Yan mo ( que é distribuído para um ).

O fato é que todo Yorubá tem como verdade que o destino de um ser é ele quem escolhe, durante seu estado de preexistência , e é este destino que é visto como metafisicamente constituída no orí-inu (cabeça interior) e é nesta condição que o homem vem ao mundo para que se cumpra com seu destino.

Essa crença se manifesta na máxima na frase, Akunle Yan ni ba – o destino é para se cumprir.
Quando o ser humano vem ai mundo ele se esquece das  promeças que fez no céu (com Deus), apenas a sua orí que traz consigo o curso e o conteúdo de seu destino, e assim persegue essa conformidade, é ela que dirige os assuntos de um ser enquanto neste mundo.
Para os Yorubá a orí é invisível, e, portanto referida como orí-inu (cabeça interior), destinado a ser o instrutor do ser, seu òrìsà, ”homem duplo” o que se é estabelecido no Yorubá Sayin.

Orí inu eni nii ba nii s’aye eni
Eda aba waye, ohun l’óri eni

Orí inu faz sua vida por ele
O animal que acompanha no mundo é seu orí

Explicando esse verso, é orí inu que ajuda e orienta emi(a vida) do nascimento à morte, levando-o de volta para o criador e dá conta da conduta do ser.
Isso justifica porque todo Babalawo orienta o individuo que ele sempre se vire para sua orí, sempre que estiver em dificuldades, daí a frase orí eni nii ni gbé (é o orí que permanece com o ser).

A orí no conceito Yorubá é a alma do ser humano a personalidade, seu anjo da guarda (òrìsà), sua identidade, adorado por ele (homem) para que obtenha sucesso na sua existência terrena. 

Para que um ser cumpra com seu destino, se faz necessário que ele esteja em um bom culto com sua orí,
Isto exige muita dedicação e respeito durante ao longo de toda sua existência
Assim como o Yorubá nos diz:

Orí La ba bo
Ti a ba fi òrìsà sile
Nitori oogun ló ni ojo iponju
Orí eni l’oni ojo gbogbo

É orí que precisa ser adorado
E não as divindades
As magias são para os dias difíceis.

Para o Yorubá a orí é digno de adoração, a cabeça física assim como quaisquer objetos sagrados, um mero símbolo, um escudo que abriga o divino (orí-inu), contraparte espiritual do ser na terra.
Fo o orí Yorubá” a parte mais importante do ser.

Conclusão:

Do ponto de vista de nossos antepassados nos revelados através do mito da criação, o corpus literário de Ifá, provérbios, máximas e outras formas de via oral em nossas tradições Yorubá, o significado e o valor da orí (cabeça) nos foram revelados.

Sua posição como alma do ser, tornando-se seu tutor anjo e divindade pessoal, o que a coloca como sagrada, também nos revela que a orí é o cúmplice espiritual de um ser que se ajoelha para receber ou escolher o ayanmo (destino), o que é igualmente confiado a proteger e para ajudar a cumprir.

Portanto para um ser ter sorte e alegria, ele tem que exaltar e cultuar sua orí, no Yorubá a orí é digna de adoração daí se diz:

Orí apesin ou seja, Orí é digna de cultuar

Compreender estas crenças, exige uma boa compreensão dos conceitos religiosos, filosóficos do povo Yorubá no que se diz orí, não apenas como um membro ativo de sua religiosidade, mas também como um pesquisador e orientador da história.

Texto transcrito por:

Kekere Awo Ifágbààlá Èsú Monteiro
Bàbálòrìsà e Historiador Yorùbá

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