Orí
no conceito Yorùba
Por
Bàbá Sehinde A. Ademuleya doutor em Antropologia da Universidade Obafemi
Awolowo, Nigéria – Ìbàdàn
Em
todas as sociedades, as crenças de um povo e sua filosofia, constituem em um
sistema de pensamentos que sempre serviram como base para suas atitudes em
relação à vida.
Este
sistema de crença lida com praticamente tudo o que de percebe entre desejos e
pessoas, tudo que se possa imaginar,
essas atitudes, são muitas vezes transmitidas através da comunicação, seja ela
oral ou escrita.
Para
obter um bom entendimento cultural de um povo, se faz necessário entender e
compreender, as crenças e os conceitos filosóficos de tais culturas, temos o
conhecimento que nenhum assunto religioso e cultural pode ser abordado sem base
no conhecimento de sua historia.
A
representação das imagens humanas esculpidas em madeira por artistas Yorubá,
sofreram e ainda sofrem a distorção no conceito Cristão de artes; em especial o
umbigo, a mama, o órgão genital masculino ou feminino, gera conflito e esconde seu
verdadeiro significado.
Seus
significados só poderiam ser compreendido e melhor apreciado quando se entende
todo o complexo que produziu o conjunto espetacular para qual foi feita.
Voltamos
para nosso propósito que é o conceito do Orí.
O
homem tem sido frequentemente descrito em uma visão religiosa de “Corpo e
Alma”.
Na
visão Yorubá Eniyan (ser humano) constitui, o copo (ara), cabeça (orí), pescoço
( orun), tronco (iyoku ara) e extremidades (apa e ese)
O
exterior do corpo assim como péle (awo), e os seus componentes, cabelo (irun),
unhas (eekanna).
Essas
partes do corpo unidas constituem no conceito Yorubá um aspecto do entre o
físico e o espírito, que é perceptível aos nossos sentidos e descritos
analiticamente em termos anatômicos.
A
ideia Yorubá de alma foi concebido e descrito em diferentes maneiras.
Em
algumas sociedades Africanas a alma esta associada a mais de dois aspectos
espirituais no homem; enquanto para alguns é “ego” que constituído com alma
forma o duplo homem.
Para
nossa compreensão desta transcendental autonomeado “alma” no Yorubá, é
necessário explicar algumas palavras neste idioma, que tem sido erroneamente
traduzido como “alma”, que são:
Emi
e Okan
Emi
= invisível e intangível, é seguramente relacionado com a respiração, o que
pode ser pensado em residir na boca e no nariz.
Mas
a respiração não é a Emi, que em Yorubá é EEMI. Emi é o que o homem respira, e
pode ser melhor descrito através de duas funções como casuais que dá vida ao
corpo, portanto, quando deixa sua função, o homem deixa de existir, pois o
corpo se torna sem vida, o Yorubá diria emi re ti bo ( sua emi acabou) que
significa estar morto.
Por
outro lado, Okan significa literalmente coração.
Em
um sentido físico, o coração está intimamente ligado com o sangue, mas, para o
Yorubá, o coração é mais do que uma máquina de bombear sangue; é a sede das
emoções e da energia psíquica.
Assim,
um bravo homem é dito possuir um coração forte ou “ o lokan”, se um homem é
conhecido por ser fraco em seus pensamentos e ações, ou seja, tímido, o Yorubá
diria (ko ni okan) “ele não tem coração”.
Basta
observar, no entanto, que nenhum dos dois conceitos descritos acima constitui a
alma para o Yorubá.
A
alma é o homem interior, a verdadeira essência do ser, a personalidade;
este a chamam de Orí.
A
palavra Orí, em contraste com seu significado “cabeça física”, ou sua descrição
biológica como a sede dos principais órgãos sensoriais, o Yorubá conota a
natureza total de seu portador.
Um
grande e específico estudo desta crença Yorubá nos revela o significado e valor
do objeto identificado como “Orí”, isto é, cabeça, que carrega consigo a
natureza essencial do individuo, que é o homem.
Para
os Yorubá o físico “Orí” é apenas uma simbologia da cabeça interior “Orí-inu”
A
Orí ocupa o centro do sagrado, e como ela é concebida, está embutida no mito
Yorubá sobre a criação do homem e o papel desempenhado por seu criador, Eledaa
(ele que criou)
A
palavra Yorubá para o homem é Eniyan,
que é derivado da frase Eni ayan ( o escolhido). O divino oráculo de Ifá, nos
revela que:
A
wa gegebi eniyan Nós,
como seres humanos
A
wa ni Olodunmare Yan Somos
os escolhidos de Deus
Lati
ló tun ilê aye se Designado
para renovar o mundo
Eni
a yan ni wa Nós
somos os escolhidos
É
indiscutivelmente reconhecido que eniyan é uma espécie ou criatura (Eda) de
Deus ou (Eleda) o criador, enquanto eniyan ou eni (pessoa) como substantivo
comum para os seres humanos, que, diferente de outras criaturas, a Orí serve
como ligação, o mesmo que “cordão umbilical”, com Deus.
Na
visão Yorubá, é Deus que cria e regula o Universo, embora a responsabilidade de
gerir e controlar o individual do homem durante e depois de sua existência, é
sua Orí , acredita-se ter sido abandonada por seu Eledá.
O
òrìsà chamada Orí é igualmente um ser criado por Deus. Isso explica porque o
Eledá é também conhecido como òrìsè.
Orí
ou òrìsè significa a essência do ser, ou seja, “gerar de” ou emergir,
òrìsè. É a fonte da qual o ser origina.
Enquanto
òrìsè refere-se à divindade (Deus), o criador do homem,a Orí refere-se a
própria essência do ser, a personalidade ou a alma.
No
entanto, deve-se ter em mente que esses termos ou palavras são frequentemente
utilizados indiferentemente, enquanto Eleda é utilizado como o “invisível” (orí
inu).
Esse
gbadura Yoruba nos diz:
Orí
ló da mi A
divindade é meu criador
Eniyan
ko o Não é o
homem
Olorun
ni É Deus
Orí
ló da mi A
divindade é meu criador
A
Orí neste gbadura se refere à Divindade, enquanto que em outra frase Yorubá
diz:
Bi
aji ni kutukutu ka di Eleda
Quando
se acorda cedo, a pessoa deve louvar seu Orí (deve-se cultuar a orí)
O
Eleda aqui assume a posição da ori inu, a essência do ser.
No
entanto, afirmou-se que na preexistência da pessoa humana, antes mesmo que ele
vem ao mundo, a sua predestinação.
Vários
Itan (historias) Yorubá sobre a criação humana confirmam este fato.
Em
um Itan narrado por Baba Wande Abimbola, conta que Obatala que é o mesmo que
òrìsà-nla (grande òrìsà), a divindade arco, que se diz ter a responsabilidade
de esculpir o eniyan (ser humano) e projetar apenas as características físicas,
por isso a sua denominação:
A
da ni bo ri ti Ele
que cria como ele escolhe
Tornando
o ser bom formado ou deformado em suas características.
Olodunmare
(Deus) daria ao corpo a emi (vida), o eniyan é entregue à Ajala, o Irunmole n
mo ipin ( a divindade que molda ori-inu) cabeça interior,que é tão desejado por
todos ao chegar ao mundo.
Este
itan coloca a Orí como destino e o significado de inu ou ipin se da à (parte),
ou seja torna-se parte (de), também nos explica a famosa figura de uma pessoa
ajoelhada diante de Olondumare para receber seu destino.
Neste
caso sua ipin tem o significado de destino.
Ajoelhando-se
para escolher o seu destino como se explica a frase Yorubá , a kun Le Yan ( que
se ajoelha para escolher) ou ainda a kun Le gba (ajoelha-se para receber), ou
por ter seu destino a ele imputado a Yan mo ( que é distribuído para um ).
O
fato é que todo Yorubá tem como verdade que o destino de um ser é ele quem
escolhe, durante seu estado de preexistência , e é este destino que é visto
como metafisicamente constituída no orí-inu (cabeça interior) e é nesta
condição que o homem vem ao mundo para que se cumpra com seu destino.
Essa
crença se manifesta na máxima na frase, Akunle Yan ni ba – o destino é para se
cumprir.
Quando
o ser humano vem ai mundo ele se esquece das
promeças que fez no céu (com Deus), apenas a sua orí que traz consigo o
curso e o conteúdo de seu destino, e assim persegue essa conformidade, é ela
que dirige os assuntos de um ser enquanto neste mundo.
Para
os Yorubá a orí é invisível, e, portanto referida como orí-inu (cabeça
interior), destinado a ser o instrutor do ser, seu òrìsà, ”homem duplo” o que
se é estabelecido no Yorubá Sayin.
Orí
inu eni nii ba nii s’aye eni
Eda
aba waye, ohun l’óri eni
Orí
inu faz sua vida por ele
O
animal que acompanha no mundo é seu orí
Explicando
esse verso, é orí inu que ajuda e orienta emi(a vida) do nascimento à morte,
levando-o de volta para o criador e dá conta da conduta do ser.
Isso
justifica porque todo Babalawo orienta o individuo que ele sempre se vire para
sua orí, sempre que estiver em dificuldades, daí a frase orí eni nii ni gbé (é
o orí que permanece com o ser).
A
orí no conceito Yorubá é a alma do ser humano a personalidade, seu anjo da
guarda (òrìsà), sua identidade, adorado por ele (homem) para que obtenha
sucesso na sua existência terrena.
Para
que um ser cumpra com seu destino, se faz necessário que ele esteja em um bom
culto com sua orí,
Isto
exige muita dedicação e respeito durante ao longo de toda sua existência
Assim
como o Yorubá nos diz:
Orí
La ba bo
Ti
a ba fi òrìsà sile
Nitori
oogun ló ni ojo iponju
Orí
eni l’oni ojo gbogbo
É
orí que precisa ser adorado
E
não as divindades
As
magias são para os dias difíceis.
Para
o Yorubá a orí é digno de adoração, a cabeça física assim como quaisquer
objetos sagrados, um mero símbolo, um escudo que abriga o divino (orí-inu),
contraparte espiritual do ser na terra.
“Fo
o orí Yorubá” a parte mais importante do ser.
Conclusão:
Do
ponto de vista de nossos antepassados nos revelados através do mito da criação,
o corpus literário de Ifá, provérbios, máximas e outras formas de via oral em
nossas tradições Yorubá, o significado e o valor da orí (cabeça) nos foram
revelados.
Sua
posição como alma do ser, tornando-se seu tutor anjo e divindade pessoal, o que
a coloca como sagrada, também nos revela que a orí é o cúmplice espiritual de
um ser que se ajoelha para receber ou escolher o ayanmo (destino), o que é
igualmente confiado a proteger e para ajudar a cumprir.
Portanto
para um ser ter sorte e alegria, ele tem que exaltar e cultuar sua orí, no
Yorubá a orí é digna de adoração daí se diz:
Orí
apesin ou seja, Orí é digna de cultuar
Compreender
estas crenças, exige uma boa compreensão dos conceitos religiosos, filosóficos
do povo Yorubá no que se diz orí, não apenas como um membro ativo de sua
religiosidade, mas também como um pesquisador e orientador da história.
Texto
transcrito por:
Kekere
Awo Ifágbààlá Èsú Monteiro
Bàbálòrìsà
e Historiador Yorùbá
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