segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Awo Ifá ( segundo bàbá Ògúnjimi)

Existem duas formas de iniciação:
(1) Iniciação Comum = “OMO IFA”

(2) Iniciação para sacerdote = “AWO IFA”

INICIAÇÃO COMUM - é geralmente para a pessoa que não vai tornar-se sacerdote de Ifá, mas precisa de Ifá para mostrar o caminho em sua vida e poderá ser do sexo masculino ou feminino existindo nenhuma discriminação.

A iniciação para Orunmila é feita durante o tempo mínimo de 3(três) podendo chegar a até 17 (dezessete) dias, sendo que no terceiro dia (ITA-FA), Orunmila Ifa revela qual o odu da pessoa, que passará a ser um(a) Omo Ifa, e é através deste odu que o babalawo poderá determinar os etutus que esse(a) Omo Ifa, deverá receber além do Oruko (nome) que esta passará a ser chamada.

Obs. A este tipo de iniciação podem submeter-se todas as pessoas, pois tanto umbandistas, candomblecistas quanto cristãos e muçulmanos, dirigem-se ao Ile Ifa para pedir a iniciação. Estes são iniciados, contudo sem abandonar suas antigas práticas religiosas. Ifa não é preconceituoso e abrange outros grupos sociais, sem desestruturar as suas respectivas linhagens iniciais.

ASSENTAMENTO DE IFÁ

Esta pessoa tem acesso a Ifa depois da iniciação através do “Awo Ifá”, ele receberá o Agere Ifá que é o assentamento do Ifa e as orientações a respeito dos Oses que poderão ser semanal, mensal ou anual de acordo ao Odu da pessoa.

Esu Ifa - Ao iniciar, a pessoa recebe também o assentamento de Esu Ifa e é necessário se ter assentado porque Esu é a única entidade (Orisa) que pode ajudar ou prejudicar a pessoa, até o próprio Ifa é alinhado com ele.

Depois da iniciação, a pessoa é responsável pelos seus assentamentos individuais e ela poderá cultuá-los sob as orientações do Babalawo.

INICIAÇÃO PARA O SACERDÓCIO
AWO IFA

Para esta iniciação, de qualquer forma, é necessário que se tenha passado primeiro por uma iniciação em Ifa, para que se saiba o caminho da pessoa. Através do odu que sair no ITA (terceiro dia do Ifá) é que se saberá se o (a) Omo Ifa será um sacerdote ou uma sacerdotisa e se assim o for o Babalawo irá orientá-lo(a) no caminho de Ifa, preparando-o(a) para o sacerdócio.
IPINUDU: é a obrigação feita para Omo Ifa se tornar Awo Ifa, sendo permitido somente aos homens esta obrigação.
IPINNUDUN AWOLORISA, é a obrigação feita somente por mulheres, Omo Ifa, que serão futuramente Iyalorisa, isso quer dizer que ela vai ter o seu Ile Ifa e somente através do odu que sair para ela, é possível se determinar o Orisa que ela vai ser iniciada. Constatado o nome do Orisa, é que se pode dar o nome de sua casa.

Por exemplo:
Se o odu dela é ligado a Osun, ela vai ser iniciada na Osun e a casa dela poderá se chamar Ile Olosun.Obs: Ela pode por determinação ou regra da sua casa mandar o filho ou a filha passar ou não por Ifá antes do Orisa.
Em nossa tradição não se inicia a outros Orisás sem passar pela iniciação de Orunmila Ifa. Assim, os Olorisas que possuem tal caminho no culto dos Orisas, devem sempre, antes de iniciar seus Eleguns, Yaos, Oyes, Alayan, passá-los pela iniciação do Ifá para poderem obter o Odu individual deste adepto e através do Babalawo serem orientados sobre qual o melhor caminho da iniciação do(s) filho(s).

CUMPRIMENTO NO ILÈ IFÁ

Quando uma pessoa se torna Babalawo significa que Ifá está encostado nele e é ele quem enfrenta qualquer negatividade que uma pessoa ou “Omo Ifa” carrega, por isto ele merece um grande respeito e não pode ser chamado pelo nome. A partir do momento que ele é preparado para brigar por sua liberdade, ele torna-se seu pai e deve ser chamado de Baba abreviação de Babalawo.

Obs.: Ele não pode ser chamado pelo nome.

Cumprimento no dia a dia:

Baba, Aboru boye
Tradução:
Baba, saudação
Resposta do Baba:
A boye bosise A gbo a to
Tradução:
Tudo de bom pra você, tenha boa saúde e prosperidade.
(Geralmente com a cabeça no chão).

A boru
A boye

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ese-Ifá (poema de Ifá)


- Ese-Ifá (poema de Ifá)

Temos o conhecimento de que, cada Odù contém sua própria história, conhecida entre os Yorùbá de ese, poema, alguns destes poemas são longos enquanto que outros bem curtos, mas, sendo longos ou curtos eles seguem uma lógica no seu raciocínio em cada poema de Ifá.

Essa seqüência lógica dos elementos é o que chamamos de domínio de estrutura.
Cada poema de Ifá tem um máximo de oito e um mínimo de quatro partes estruturais.
Os poemas que tem quatro partes são geralmente curtos, são chamados pelos Bàbá de Ifá kéékèèkéé, ou seja, pequenos poemas, que na verdade trata-se de resumo de poemas mais longos.
Sendo a maioria dos poemas, retentores de mais de quatro partes, em uma outra categoria, podemos encontrar em alguns casos, nas partes quatro e cinco um certo alongamento em certas pronúncias, sendo neste caso conhecidas como Ifá nláálá ( poemas alongados de Ifá).
Todo verso de ifá tem inicio o nome do sacerdote que no passado consultou Ifá, como forma de base para o poema.
Geralmente são nomes de louvor dos sacerdotes de Ifá, na primeira parte (I) da estrutura do verso é muito observado pelo Bàbá, pois se não evocar os nomes corretamente destas autoridades espirituais, o poema fica destituído de sua importância mística, esta parte do verso por, tanto, dá a legitimidade a cada poema em um fato histórico autentico e real que ocorreu no passado.
Os nomes variam de acordo com os fatos, podendo ser nomes de plantas, animais ou mesmo de um ser humano comum, enfatizando desta forma que os acertos e os erros se repetem desde do inicio dos tempos.

Então quando o bàbá entoa o nome de um sacerdote do passado nesta parte do poema, podemos compreender seu louvor como verdadeiro, mas só no sentido espiritual e simbólico.

Já na segunda parte (II) do poema se menciona os nomes dos consulentes de Ifá, para quem os sacerdotes da (I) primeira parte efetuou a consulta à Ifá.
O consulente neste caso pode ser apenas um como também toda um comunidade,

Igual o ocorrido na primeira parte, estes nomes são reais e também místicos, tanto de pessoas como de lugares.

Nesta parte do poema aclamada pelo bàbá, tem como resultado o fortalecimento para o seu propósito.

A terceira parte (III) do poema, trata da razão ou situação do passado. Esta parte da aclamação do bàbá trata do motivo que trouxe o consulente até Ifá.

A quarta parte (IV), aponta o que se deve fazer para a solução de todos os problemas anteriormente mencionados, detalhes como qual sacrifício de ser feito, ewo, clareza no que se diz respeito ao erro cometido e a orientação para que se não cometa o mesmo erro novamente.
Além disso, ele deve prescrever para seu consulente tudo o que lhe foi aconselhado por Ifá.
Esta parte justifica também, quando se dá lista para o consulente, demonstrando assim, que a pessoa tem de passar por este teste de compromisso para realização do ètùtù.
A quinta parte (V), esclarece ao bàbá se o consulente seguiu as determinações de Ifá ou não, tratando do tipo de pessoa com quem se esta lidando.
Já na sexta parte (VI), indica o que aconteceu com o consulente após ele ter se submetido a todas as orientações de Ifá. Os resultados e conseqüências, caso o consulente não obteve êxito e tenha cometido mais erros.

A sétima parte (VII), nos mostra a reação do bàbá ao desfecho da consulta, obtendo um bom resultado com o consulente o bàbá demonstrará feliz, mas se for negativa ele ira reagir com arrependimento e tristeza.

Esta parte do poema é muito importante, pois nos revela se o consulente é digno de se efetuar o ètùtù e de permanecer como filho ou apenas consulente.
O pacto de confiança se da na responsabilidade com que o consulente trata toda situação.
A oitava parte (VIII), se trata da conclusão, não só de resultados mas de todo o histórico, esta parte pode ressaltar o tamanho da importância de um ato de sacrifício.
Esta parte também serve de avaliação para o bàbá, no que ele possa considerar de suma importância diante dos fatos.

Quero deixar bem claro que, os poemas de Ifá são de caractere histórico, toda poesia tem por objetivo orientar os seres humanos à não terem mau comportamento, e que todo malefício que, por ventura ocorra em sua vida, é em virtude de seus próprios erros.
Ao narrar esses poemas o consulente se identifica com seus próprios problemas, vinculando-se ao personagem da narrativa.

Oriento aos estudiosos desta forma de culto a Ifá, que, tem de saber o que é mais importante de se observar no ese- ifá.

Por tanto o que posso lhes orientar em relação a isso, é que as parte I , III e VIII, são de muita importância para o êxito da acertação do problema. Sendo essas partes também consideradas obrigatórias por muitos sacerdotes.

Enquanto as partes IV e VI são opcionais.

Vou descrever um poema em caráter de exemplo, para melhor compreensão de todos:

(I) Gbónkólóyo;


(II) A dia fún ode


(III) Ti nregbé ‘je, Èlùjù’je.


(IV) Wón ní kó rúbo àlo, kó rúbo àbò .

Wón ní pípò ni igún fún n.


(V) Ó si rúbo


(VI) Ìgbá to rúbo tan, ó gún si òtún,
ó gún si òsì.
Ó kó erú, ó si kó erù.

(VII) Ó ní béè gégé, ni àwo òún nsenu rereé pe ‘Fá.


(VIII) E se ode ni hiin, ode hiin, hàà hin o.

Tradução


(I) O bàbálàwo chamado Gbónkólóyo;

(II) Consultou Ifá para o caçador.
(III) Que Estava indo caçar nas sete florestas e desertos.
(IV) Foi aconselhado ètùtù para proteção da expedição.

(V) Ele fez o ètùtù
(VI) Após ter realizado
(VII) Ele relata que ocorreu exatamente o que se Bàbá havia orientado através da voz de Ifá .
(VIII) Bem vindo caçador aclamado.
bem vindo caçador de louvor,

Caçador,nós te saudamos,

Nós te damos boas vindas e te aceitamos.

A poesia de Ifá é muito rica em linguagem e formas de estilos.
Uma relação detalhada de todas as características de estilos,rica em gêneros.

Existem cinco maneiras de repetição encontradas nas poesias de Ifá,a saber:

Estruturais.

Temática.

Linear.
Silábica.

Aliteração e assonância.

Para maior compreensão explicaremos separadamente cada caso citado a cima:

Estrutural

Uma das formas mais comuns é a de repetição das partes da estrutura dos poemas.

A repetição estrutural envolve as partes I,II e III ,e em alguns casos podendo envolver as partes IV e V.

Sendo assim entende-se que essa estrutura envolve a repetição de algumas ou de todas as seis primeiras partes.

Por isso, se é aconselhado a não tentar se utilizar desta pratica sem total e não parcial do conhecimento ,para não causar danos na vida do sacerdote ou do consulente.

Temática:

Nesta prática a repetição se concentra no assunto propriamente dito.
Vista de forma expressiva no poema Ifá nlánlá,onde são de forma longa e separada tanto em partes quanto em todo seu conteúdo.

O valor da temática consiste na repetição constante, de forma que , tanto o Bàbálawo , quanto o consulente ficam sem sombra de dúvidas o que se diz a mensagem de Ifá e qual ètùtù a ser realizado pelo seu consulente.

Esta repetição ocorre nos termos (IV) e (VI) do Ese (poema) por se tratar das partes dinâmicas e criativas do cada poema.

Linear

Sem sombra de dúvida a mais importante repetição encontrada.

Podemos encontrar dois tipos distintos de repetição linear:

A linear completa :

Que trata em repetir uma ou mais linhas estruturais

A linear parcial:

Usada tanto para a ênfase quanto para investigar o que se esta revelando no mundo espiritual em caráter afirmativo da descrença do consulente no que se diz respeito as coisas espirituais.

A explicação completa deste vasto assunto será posta na próxima edição.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

ALTAIR TOGUN:

Altair Bento de Oliveira, conhecido como Pai Altair Togun, partiu para o orun no último dia 14 de janeiro de 2012.

Apesar de adoentado há alguns anos, a notícia sobre a sua morte foi a princípio um boato que custou a ser confirmado, para nossa tristeza.

Sua família consangüínea não quis divulgar o óbito, preferindo manter reservado o luto e garantir a intimidade dos ritos fúnebres.

Pai Altair era discreto. Negro, magro, de estatura mediana, era um homem de voz baixa, mas dono de muita atitude.

Altair Togun tinha 46 anos de santo quando morreu. Ele foi iniciado para Ogun na Nação Ketu, em três de outubro de 1966, por Carlos Gonzaga, o Carlos de Obaluaiyê, no Município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Eram tempos em que o saber religioso não era público, nem de fácil acesso. Inquieto e com fome de conhecimentos e respostas, se lançou muito cedo às pesquisas. O inquietava repetir os adurás (rezas) e os orins (cânticos sagrados) sem entender seus significados em português.

Foram cerca de 30 anos de pesquisas solitárias e persistentes. Queria conhecer o yorubá. Mas não existiam professores, nem dicionários. Ele ia então lentamente garimpando as palavras, lapidando as frases, esculpindo os textos, traduzindo para o inglês, depois para o espanhol, e finalmente chegando ao português. Tudo isso sozinho! Ele foi um autodidata.

Assim, foi o primeiro no Brasil a lançar um livro contendo músicas sacras com a letra em yoruba, sua fonética (pronúncia) e a tradução em português, anexando ainda 15 fitas cassete com um total de 15 horas de áudio dos respectivos 376 cânticos sagrados. Era sua primeira obra: “Nkorin S´àwon Òrìsà – Cantando para os Orixás”. O ano: 1993.

Naquela época, o preconceito no nosso meio era grande contra o registro escrito dos saberes rituais. Pai Altair foi muito criticado pela iniciativa, mas não pelo conteúdo da sua obra…

Ele não se abateu. Dois anos depois (1995), lança seu segundo livro, ainda mais contundente e detalhado: “Elégùn – Iniciação no Candomblé”, com prefácio de ninguém menos do que Agenor Miranda da Rocha, que assim concluiu o prólogo: “Sem entrar no mérito da polêmica acerca do que deva ou não ser publicado, saudamos mais esta contribuição aos estudos da cultura e religiões africanas no Brasil”.

A pesar disso, as críticas foram ainda mais severas e ácidas. Eram hipócritas, que renegavam a publicação, mas a consultavam em segredo nas suas casas…

Enquanto os mais tradicionalistas o boicotavam, o nome de Altair Togun crescia em admiração junto à nova geração que se constituía no Candomblé.

De tanto se debruçar no idioma yorubá, Pai Altair foi convidado a inaugurar o curso de Iniciação à Linguagem Yorubá, sendo professor convidado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Ali, foi mestre de toda uma importante geração: Fernandez Portugal, Marcelo Monteiro, José Flávio Pessoa de Barros, José Beniste, entre outros.

Seu terceiro e último livro veio em 1998. Já descontente com a política editorial, lançou em produção independente sua obra prima: “Asese – O reinício da Vida”. Um trabalho completo, onde discorreu sobre o contexto histórico, as práticas atuais, as explicações litúrgicas, também com a tradução de rezas e cantigas. Novamente composto por um acervo de fitas cassete com todos os áudios. Um livro antológico sobre o tema.

A essa altura, desgostoso da vida, seja pelos problemas familiares, seja pelas decepções que colecionou na vida sacerdotal, ou ainda pela ferocidade de seus críticos conceituais, foi se abatendo e se alquebrando pela doença.

Ao final da vida, era um homem nostálgico. A voz se mostrava ainda mais fraca e titubeante. Traído pela memória e pelos que ajudou, o velho Togun estava convicto de suas iniciativas, mas magoado e triste com o ostracismo a que fora relegado em sua Roça numa área remota de Nova Iguaçu.

Poucos foram os que o acompanharam até o fim. Poucos foram os que reconheceram seu mérito e o valor extraordinário de seu esforço para a sobrevivência do Candomblé.

Pai Altair Togun influenciou uma era. Fez escola, fez história, fez o Candomblé melhor: mais lúcido, mas claro, mais correto, mais compreensível. Ele registrou, traduziu e elucidou, trazendo luzes à ignorância e oportunidades aos interessados.

Não foi um mero tradutor. Seu trabalho assumiu uma importância singular, porque ao reparar os textos em yorubá e traduzi-los, garantiu automaticamente que a história dos Orixás, seus feitos, seus atributos e virtudes, assim como seus rituais, não fossem mutilados pelo tempo, nem pelos erros lingüísticos.

Assim a obra de Altair Togun ajudou a garantir uma tradição da qual já não se tinham mais referências gramaticais, a medida em que a língua matriz (o yorubá) que funcionava como um código de transmissão cultural estava se perdendo.

O Candomblé e toda a cultura Nagô foram literalmente resgatados pelo empenho desse homem que lutou sozinho contra um exército de ignorantes, mas que garantiu um legado eterno, herança de todos nós.

Altair Togun é um marco que divide o Candomblé em duas fases: a era da repetição e a era da compreensão.

Márcio de Jagun

Babalorixá, escritor, professor universitário, advogado e apresentador do Programa Ori (ori@ori.net.br)

Alàáfia isun o!!!!