quinta-feira, 10 de maio de 2012


Orumilá (Ifá)
Okitibiri, a-pa-ojo-iku-da
O grande transformador,
que pode alterar a data da morte
Orumilá, ou Ifá, a divindade oracular dos Yorubás, é respeitado por sua sabedoria. A palavra Orunmila forma-se da contração de orun-l'o-mo-a-ti-la = Somente o Céu conhece os meios de libertação; resulta também da contração de orun-mo-ola = Somente o céu pode libertar. A palavra Ifá, por sua vez, tem por raiz fa, que significa acumular, abraçar, conter, indicando que todo o conhecimento tradicional yorubá acha-se contido no Corpus literário de Ifá. Abimbola, um dos mais significativos expoentes no estudo da cultura iorubá, é de opinião que o empenho em traçar rotas de origem de palavras antigas como os nomes dos orixás é tarefa inglória dado que a estrutura dessas palavras impossibilita uma análise autêntica.
Orumilá teria morado num lugar conhecido como Oke Igeti, sendo por isso que alguns de seus oriki o chamam Okunrin kukuru Oke Igeti = Homem baixo do Monte Igeti; Akere-f'inu-sogbon - Pessoa pequena cuja mente é plena de sabedoria.
Segundo um de seus mitos, teve oito filhos e alguns discípulos aos quais ensinou os mistérios da adivinhação. Todos os filhos tornaram-se importantes, espalhando-se por muitas regiões da terra yorubá. De acordo com outro mito, Ifá, nascido em Ifé, era um eminente adivinhador e um grande curador. Depois de tornar-se famoso, fundou uma cidade chamada Ipetu, dela tornando-se rei passando a ser chamado Alaketu. Era muito popular e considerado grande profeta, sendo procurado por muitas pessoas desejosas de aprender a arte divinatória. Entre todos, ele selecionou dezesseis homens, cujos nomes são idênticos aos dos signos divinatórios chamados Odu.
Outro mito conta que o culto de Ifá foi introduzido na terra iorubá por um nupe chamado Setilu, que nascera cego. Seus pais haviam desejado matá-lo, por causa de sua deficiência. Mas ao crescer Setilu foi se revelando uma criança muito especial, surpreendendo os pais por seu poder divinatório. Desde os cinco anos começou a apresentar poderes, contando aos pais por exemplo, quem os visitaria e o que trariam. À medida que foi crescendo dedicou-se mais e mais à prática de oogun, magia/medicina tradicional servindo-se, no início, de 16 seixos para adivinhar. Mas os muçulmanos sentiram inveja dele e o expulsaram do país. Atravessou o rio Niger rumo à cidade de Benin, dali para Owo e de lá para Ado, alcançando finalmente Ifé onde radicou-se e veio a ser famoso. Iniciou muitos de seus seguidores nos mistérios da adivinhação de Ifá, o orixá que viria a ser o oráculo de todo o povo Yorubá.
Outros mitos narram que Ifá (Orumilá), em companhia de outras divindades primordiais veio para a terra participar do processo de criação. Teria descido em Ifé, considerada ponto de origem da espécie humana. Orumilá recebeu de Olodumare a incumbência de acompanhar e aconselhar Orixalá, seu senhor e superior hierárquico, e o privilégio de conhecer a origem de todos os orixás, de todos os seres humanos e de todas as coisas. Por isso é responsável pela tarefa de guiar os destinos.
Eleri-ipin - a testemunha (ou defensor) do destino humano presencia o nascimento de todos os seres humanos, momento em que o destino de cada homem é selado. Somente Orumilá conhecedor do ipin ori - destino do ori pode adequadamente sondar o futuro e orientar quem o procura. Por isso é consultado nos momentos críticos da existência - fundação de aldeias; início da construção de casas; realização de contratos; negociações; início e término de guerras; casamentos; nascimentos.
A palavra Orumilá designa a divindade, enquanto a palavra Ifá designa, simultaneamente, a divindade e o sistema divinatório a ela associado. Para orientar os que o procuram, o sacerdote de Ifá, chamado babalawo (pai do segredo), reporta-se ao Odu Corpus, conjunto riquíssimo de conhecimentos esotéricos e registros históricos da milenar tradição iorubá. Veste branco e geralmente raspa a cabeça. As regras que deve obedecer incluem a de não aproveitar-se das próprias prerrogativas. Como possui amplos e profundos conhecimentos é procurado por grande número de pessoas, muitas das quais em situação de crise, fragilizadas pelas circunstâncias difíceis que enfrentam, mergulhadas num sofrimento do qual querem escapar, literalmente, a qualquer preço. Esta configuração favorece o abuso de poder. Entretanto, recebem a advertência de não agirem em benefício próprio (para enriquecer, por exemplo), nem de recusarem servir a quem não possa pagar. Se necessário, além de realizar o jogo divinatório sem ônus para o consulente, devem dar-lhe o necessário para encaminhar a solução do problema. Entende-se que o grande privilégio e a grande riqueza do sacerdote de Orumilá reside na oportunidade de estar a seu serviço. Atentemos para o fato de que Ifá pode compreender todos os idiomas da terra, o que lhe possibilita aconselhar todos os seres humanos, sem exceção. O corpus narrativo de Ifá guarda a história da maioria dos orixás. Guarda ainda, o ensinamento de curas através do uso de ervas. Por isso, seus sacerdotes devem conhecer, além da prática divinatória, o preparo de remédios. Orumilá tem por irmão mais novo, Ossaim, a divindade da cura, de cujo auxílio serve-se há 1460 anos.
Ifá é cultuado em toda a terra iorubá. Seu santuário fica na casa do sacerdote. Seus pertences incluem 16 sementes de palmeira (ikin), búzios e pedaços gravados de presa de elefante, guardados num receptáculo colocado em lugar alto num canto ou no centro do cômodo. Aceita em sacrifício óleo de palmeira, obì, orobô, sendo que sacrifícios mais elaborados, podem incluir aves, porcos ou bodes, dependendo da prescrição do oráculo.


 Fontes: Idowu, 1977; Awolalu & Dopamu, 1979. Maiores particularidades a respeito do sistema divinatório de Ifá vide Capítulo 11. Conforme exposto no Capítulo 11 
 Vide Capítulo 10
Aqui temos o número 1460 mencionado outra vez, indicando quantidade incomensurável

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